O sabor do casamento...
(Texto criativo retirado de "amore de todas as cores")
(Fotografia meramente ilustrativa)
Maria chegou à porta, olhou para o pai, respirou e sorriu com um olhar de calma e sensatez. Voltou o olhar para baixo. Segurou as margaridas amarelas com mais assertividade e sorriu a pensar no pânico que invadira as amigas quando foram com ela à florista. Riu. O pai enfrentou-a e sorriu: Estás nervosa?
Os últimos meses passaram tão rápido, que se sentia ainda a levitar pelo tempo. Aqueles dez minutos antes da entrada fizeram Maria passar em revista toda uma vida até chegar ali. Queria responder: Foda-se estou. Mas disse: Nada.
Voltou aos seus pensamentos. Ainda estava incrédula com o seu “Sim, quero.” Gostava do Pedro. Mas não tinha sido a sua grande paixão. Nem o seu grande Amor. Isso tinha ficado lá para trás. A paixão extinguiu-se com o Alberto ( que arruinou a sua forma de amar) e o seu grande Amor era , sem dúvida, o seu filho. Pensou nos votos que escolheu. Tinha sido sóbria. Não queria dizer nada que não sentisse. E, ao mesmo tempo, queria dizer tudo o que sentia - apesar de não sentir tudo o que devia - pensou, triste. Nunca tinha sentido a loucura da paixão, que tanto a dominara ao longo da vida. Não. Com o Pedro existia cumplicidade, companheirismo. Mas não havia a loucura e a paixão que tanto a definiam. Adorava tudo o que partilhavam. Adorava que se entendessem. Mas sabe que faltam outras coisas. Chegada aos 40 anos. Ponderou tudo. Pensou nas palavras do seu avô. E naquele momento as palavras: Nunca troques a tua independência por nada - soaram-lhe ao ouvido.
Maria tinha tomado uma decisão e nada a faria voltar atrás. Ele é um doce - pensou e sorriu.
Estava na hora de entrar. Arranjou o vestido - simples como ela, de renda - nada casamenteiro. Bucólico - como ela gostava. Mais uma vez as palavras do avô soaram - “sê sempre autentica.” Maria segurou o braço do pai e disse: vamos. Sentia o nervosismo por trás do semblante sempre calmo do pai. Já tinha 40. Mas não deixara de ser a sua menina. A sua menina das flores e dos poemas. Olhou para o céu e sentiu o toque sereno do seu avô, dizendo: estou aqui. Deu o primeiro passo - de muitos que daria na sua vida.
A sua entrada foi descomunal, para alguns. Serena, para outros. Mas a curiosidade era exclusiva em cada olhar. Maria tentou abstrair-se. Pensava no seu filho, que a observava do cimo da igreja. Os olhos felizes dele irradiaram pelo seu peito. Ele sim era o grande amor da sua vida e isso era tão único e tão seu que a consumia por inteiro, onde estivesse, com quem estivesse.
Os amigos sentavam-se em grupos. O grupo dos médicos, o grupo dos professores, o grupo das amigas, o grupo dos amigos, os amigos de infância dele, os dela. E depois estavam as duas famílias. Maria riu-se. Que salgalhada! - pensou ela., fazendo o seu nariz torcer. Pedro era um quarentão muito desejado e, no meio das suas amigas, Maria tinha encontrado a sua grande resistência. Que pensariam elas agora?! Maria tentou procurar rostos no meio da multidão mas não conseguia. Como que por magia. Os olhares reprovadores da sua conduta mais selvagem estavam lá algures - mas, naquele momento, tinham-se dissipado. Um grupo falava sobre o seu vestido, outro sobre o seu cabelo solto. Sempre um tom semi-reprovador, semi-invejoso. Mas Maria não ouvia. Ela sabia. Enquanto caminhava os olhares questionantes ( como ela aceitou? Como ele se apaixonou?) faziam fila para a verem passar. Continuou a caminhar de olhos fixos no filho que se encontrava de mão dada com o Pedro. Sim o Pedro estava lá. Mas ela ainda não o conseguia olhar…