Imagem capa - Maria por Manuela Seabra

Maria


Fotografia meramente ilustrativa. 

texto retirado de "amore de todas as cores"

"A vida das promessas, dos vislumbres raramente foi para mim. Sonho muito, mas sempre com uma asa presa no chão" . E assim começou a história de Maria - de amores e desamores, de príncipes ou vilões, de promessas e propostas (indecentes algumas)- sem nunca parar para se arrepender; sem nunca olhar para trás.

Era uma vez uma menina que sonhou ser. Sonhou ser independente, sonhou ser mãe, sonhou ter muitos animais para cuidar, sonhou viajar, sonhou ter amigos para a vida, sonhou ser sempre fiel à sua personalidade, sonhou sempre ajudar quem precisa, sonhou ser uma profissional grande, sonhou ajudar crianças, sonhou deixar os seus pais e avós orgulhosos, sonhou ajudar a sua família. Sonhou tanto que pensou não conseguir sonhar mais. Hoje essa menina já não existe. Mas viveu tudo o que sonhou. E continua a sonhar quando pensava não poder sonhar mais. A menina desapareceu.Mas o coração é o mesmo. Enquanto bater.

Lembro- me nitidamente da sua primeira história. A dela. A tristeza sentida cada vez que percebia que o pai (homem sensível e frágil - que ela tanto adorava) ia embora. Sentia muitas vezes o trago amargo na boca - do medo, da tristeza, da solidão. Aquela menina de totós - tão sensível, quanto forte; tão alegre, quanto triste - mesmo na tristeza sempre encontrava força para seguir em frente. Adorava brincar. Sonhava a vida com as suas bonecas. Vivia o seu mundo do faz de conta e contava os dias para poder vivê-lo a sério. Tinha os seus amigos queridos: o seu vizinho - menino doce e carinhoso - tão alegre que contagiava; e o seu cão - (pastor alemão) fiel e amigo - e o seu primeiro desgosto. Adorava a sua vida. Mas sabia. Sabia que algo faltava. Sabia que era muito amada. Mas algo faltava. Algo sempre faltou - no seu coração uma marca de tristeza, na sua cara a alegria dos 8 anos. Ela vivia. Vivia rodeada de um carinho ruidoso que era bom, mas trazia sempre uns uivos silenciosos que a incomodavam. Vivia sem mágoas e sem amarras. Era mais irreverente e dona do seu nariz do que a maioria das crianças da sua idade. Boa aluna, mas nem sempre a mais bem comportada. Era vê- la a jogar à bola com os meninos ou em desafios de corrida (mal ela sabia!); brincar às casinhas não era a sua brincadeira preferida. Gostava de ser desafiada - intelectual ou fisicamente. Era uma soma estimulante de vários desafios. Adorava ajudar e adorava gente honesta - até hoje é assim. Ela escolhe as suas pessoas pela honestidade e simplicidade. A vida é simples. E é assim que ela a gosta de viver. Mas nem sempre o simples lhe pareceu simples - e nem sempre o complicado não deixou de ser simples para ela. Maria perguntava-se imensas vezes quem era. E nem sempre sabia responder. Mas sabia. Ela é uma pessoa de dentro para fora. Disso tinha a certeza. A relevância  dela está na sua essência e no seu carácter -  uma multiplicação elegante de várias características. Acredita em sonhos, não em utopias. Às vezes sonha alto. Mas caminha aqui neste circo. A Vida é para viver, cair, aprender, levantar e seguir em frente. Ela é tudo isso e muito mais. Hoje calmaria, amanhã turbulência, reinventa-se a cada passo. Adora mudar e seguir diferentes caminhos. Reinventa-se sempre que a vida pede um pouco mais dela. Tem de ser. É mulher; é complexa; é mistura; é menina. Perde-se; procura-se; acha-se. E quando é necessário: enlouquece e deixa-se andar. Não é de metades, não é meia amiga, nem quase amor. Ou é tudo ou não é nada. Não suporta meios termos. É inocente às vezes, mas não é burra. Ingénua, mas não santa. É pessoa de riso fácil, mas de choro também. Por fora parece para muitos, mas por dentro é a mulher que poucos conhecem! É uma eterna aprendiz. Para alguns a pessoa mais estúpida do mundo. Para outros uma mulher cheia de doçura. Não faz questão de agradar a ninguém a não ser a ela mesma. Não adianta tentar entendê-la, não adianta tentar rotulá-la, muito menos tentar definir. Nem ela própria  o consegue fazer. É  aquela que ri de qualquer coisa quando gosta e que repele visivelmente quando não gosta. É a que se assusta com tudo, que chora para aliviar a dor. Mas que vai à guerra sem temor. Tem gostos e reações estranhas, fora do comum. É racional mas um turbilhão emocional. É uma pessoa paciente e ansiosa. Mistura a sua razão arrojada com uma ética dolorosa. Alguém que não consegue esconder o sorriso e que se diverte com muito pouco, que fala pelos cotovelos, mas gosta de pensar em silêncio. É alguém que se magoa facilmente mas que sabe perdoar fácil. Não sabe não entender e perdoar. E já se feriu de morte. Mas sempre encontra as forças dentro dela para nunca deixar de amar quem a fere. Pois pior que um coração ferido é um coração ressequido. É pessoa com inúmeros defeitos, mas qualidades incríveis também. Um ser comum, mas não uma pessoa qualquer. Encontra a sua relevância dentro da sua caixinha de mistérios. É uma mulher madura, que às vezes só quer brincar à macaca. Uma criança insegura, que às vezes põe salto alto. Quem a vê, pensa. Quem a conhece, sabe. É muito mais do que as suas letras, frases e fotos dizem dela. É as suas atitudes, os seus sentimentos, é os seus confortos e gestos para com quem ama. Tem um mar de elas dentro de si. Pode ser um sonho ou um pesadelo. Pode ser amiga ou inimiga. Pode ser erro, pode ser acerto. Pode ser o perfume mais doce ou até o veneno mais letal. Pode ser tudo, mas pode ser nada. Pode ser a conquista ou a derrota. Pode ser a solução dos problemas, mas pode ser a causa deles. É do dia, mas sabe viver na noite. É da água, mas teve de aprender a manobrar com o fogo. É do bem, mas vive a vida a encontrar maldades. É da alegria, mas já chorou muito por ela ou por alguém. É do trabalho, mas sabe fazer uma boa escapada. É mesmo assim. Não sabe se agrada, mas é assim. É da justiça, porém foi injustiçada vezes sem fim. É do amor, mas pertenceu sempre ao grupo que conhece o desamor. É da compreensão, mas muitas vezes incompreendida. É da ajuda, mas poucas vezes é ajudada - também não pede ajuda. É assim, se errada não sabe. mas é assim. Segue, Luta, Batalha, é guerreira , mas prefere a paz - anseia por ela. É do Sol, mas adora a chuva. É do acerto, mas cansa-se de errar e tentar. É do perdão, e perdoa quantas vezes o seu coração suportar. É assim, se está certa não sabe, mas é verdadeira. É alguém que vive em busca de coisas simples. É aquela que procura mais a atitude do que a promessa. É quem corre como uma louca à procura de coisas das quais alguns até fogem. É aquela que prefere a verdade que dói, do que a mentira velada que agrada. É aquela que reconhece os próprios defeitos e luta contra eles. É aquela que sabe a hora de calar, mas nem sempre se cala. É aquela que sabe o tempo de falar, porém nem sempre fala. É o contrário do que muitos acham, mas é exatamente como poucos dizem. Conhecidos -  milhares. Colegas -  centenas. Amigos -  não mais que os dedos das mãos. Foi assim que ela se construíu e reconstruiu vezes sem conta. Diz quem a conhece que a beleza dela está na força do seu caráter. Para ela a sua força está para além do seu caráter. Está na força da sua Alma.

Ela sempre soube - de catraia - que viver é tão simples que complica; a complicação inicia-se tão rapidamente, como o momento em que nascemos. O momento em que começamos a fazer parte é o momento em que nascemos;  é nesse mesmo momento que começamos a integrar algo maior. Amar a família; aceitar a família; abraçar a família são extensões necessárias ao amor. Ela pensava ser impossível não amar a sua família louca; uma família cheia de dualidades, louca de Sensibilidades, louca de contradições deliciosas, louca de amores. Como é bom perceber, ao fim de uns anos, que tudo o que viveu e sentiu com a sua família valeu a pena; na verdade, não é só porque é a melhor família do nosso mundo, mas também porque, nas suas loucuras, lhe transmitiu uma bagagem emocional sem igual. Ela acha que a sua é sempre a melhor pois, não sendo a mais perfeita, não sendo a mais amorosa ou dedicada é aquela que sempre está lá; a sua família esteve lá nos melhores e nos piores momentos, esteve lá nos altos e nos baixos, esteve lá em todo e qualquer percurso que ela decidiu trilhar. A família é muito mais do que um laço de sangue, muito mais do que um laço genético; a família é um laço de amor, a família é o Amor!