Paixão desenfreada.
Texto retirado de "AMORE de todas as cores"
Imagem meramente ilustrativa.
Maria chegou e lá estava ele, como sempre; Incrível. Aquele ar de quem tudo sabe e tudo vê, deslindava-se à distância: a camisa sempre aprumada, o blazer no braço mas sem uma única dobra. Olhou-o nos olhos, sem hesitar. Sentiu, sem sombra de dúvidas, que aquele era o momento para o interpelar; de cabelo bagunçado, deambulou sala fora em direção àquele homem que a em bri a ga va desde miúda. Nem uma palavra lhe disse. As palavras ficaram-lhe presas na garganta como se tivesse perdido a capacidade de falar; aquele homem ali, ao pé dela - de olhos postos nos seus, e ela sem voz, sem alma. Sentia-se a tremer por inteiro. As mãos suavam, os olhos começavam a lacrimejar; mas, sem se deixar derrotar, levantou a cabeça, respirou fundo e disse-lhe um trémulo olá. Não obteve resposta.
Olhou-a.
Segurou-a.
Beijou-a.
Tudo nela estremeceu; aquele sabor delicioso enlouqueceu-a; o seu cheiro entranhou-se no seu corpo e tudo o que mais desejou é que aquele momento se eternizasse. Quando deu por si estavam num quarto desconhecido; de respiração parada e visão enevoada. Tudo parecia um sonho, nada mais. Completamente extasiada por aquele homem deixou-se ir; sem pensar, lançou-se nos seus braços; os seus corpos colaram-se, encaixaram-se, sentiram-se, dominaram-se; a respiração tornou-se uma só e assim se mantiveram por minutos, horas, anos, nem ela sabia bem. Tudo o que aconteceu era imparável. Corpos estendidos sem noção, extenuados de tanto que se amaram. Sem uma palavra, da mesma forma que o interpelou, escorregou pela cama fora, levantou as roupas e
Saiu; sem proferir uma palavra, sem o olhar; os seus olhos observadores nela, também sem imitir o som de uma palavra, deixou a ir.
Várias foram as vezes que se cruzaram - sem combinarem; com poucas palavras e muita intenção. Eles sentiam-se mas não se pertenciam. Cada vez que se cruzavam era como se o mar enterpelasse o céu.
Naquela segunda feira cruzaram-se, atropelaram-se de novo no elevador da empresa: sem demoras, descontrolados deram azo a todo aquele desejo ardente que os consumia - horas passaram até que os seus corpos estagnados se estenderam pelo chão. Por entre gemidos, nem uma palavra foi pronunciada - a sede de desejo era tal que só os sentidos tomaram conta. Deitados no chão, (sem voz) - com a respiração ainda
de
sa
li
nha
da
mantiveram-se COLADOS por muito tempo. Deliciados com tanto ardor - ou tão só incapazes de traduzir em palavras aquele delicioso momento. Nenhum dos dois queria sair daquele êxtase - mas ambos queriam sair daquele quarto com urgência. Quando o desejo deu lugar ao vazio ela foi a primeira a levantar: mais uma vez - sem uma palavra. Sem uma palavra,
levantou-se,
recolheu a roupa e
vestiu-se sem demoras.
Os seus olhos esbarraram-se no momento em que saía e, ainda assim, não o fitou. Suavemente deu-lhe um beijo na face - ainda incendiada de DESEJO - virou costas e saiu. Ele estagnado, sem vontade de mexer - mas feliz pela saída silenciosa daquela mulher que tanto desejava. Por momentos pensou que queria mais - sentiu uma urgência em possuí-la de novo - mas, rapidamente afastou todos os pensamentos. Lentamente como que a saborear (intensamente) cada sensação que percorria o seu corpo levantou-se e saiu - com vontade de ficar, com vontade de voltar.
Nunca mais se encontraram. Nunca mais se cruzaram. Ele foi trabalhar para Inglaterra; ela foi fazer o doutoramento nos Estados Unidos. Mas ela tatuou nele o seu cheiro inebriante e ele tatuou nela o seu toque ANIMALESCO.