Imagem capa - Amor sem limites... por Manuela Seabra

Amor sem limites...


Aquele dia foi diferente, todos eram para ela. Maria acordou para ir trabalhar. Ele agarrou-lhe o pulso, puxou-a para ele e ficou: agarrado a ela e ela presa naqueles braços enormes - mesmo sem força, ela sentia-se presa e perdida. Foi trabalhar de sorriso nos lábios. Mas, sem pensar, continuava a sentir aquele olhar que não a abandonou desde que saiu de casa, pudera era o olhar do amor. Era um olhar de amor, sim; mas era um olhar de adoração que ela reconhecia, mas que naquele dia não o sentia igual. Passou o dia feliz nas suas pinturas. O seu coração transbordava de sensações. Seria da sua alma artista ou era algo mais? Ao almoço, como sempre fazia, ele subiu pelo atelier com almoço para os dois. A vida dele era mais corrida que a dela, mas, ainda assim, sempre encontrava um tempo, um espaço para fugir para ela. Ela adorava aquele abraço que lhe tirava os pés do chão. Ela sabia que ele não era o melhor homem do mundo - bem no fundo, ela sabia. Mas a verdade é que ele era, para ela. Voltou ao trabalho e ele também. Passou uma tarde alegre e produtiva. Era vê-la cantar e pintar; pintar e cantar. Adorava trabalhar quando estava feliz, e notava-se no seu olhar. E estava. Aquele amor inspirava- a. Sentia-se mais produtiva no trabalho. Mais bonita. Mais capaz. O amor muda tudo - cliché, eu sei, mas bem verdadeiro.

As noites livres eram muito caseiras para eles - um filme; um sofá; ela; ele; e muito mel. Mas naquele dia ligou-lhe e disse: jantar e cinema - ver o filme que ele tanto queria - outra das paixões que os unia. E lá foram. Durante o jantar apercebeu-se do brilho nos seus olhos; do toque na sua mão - algo natural entre eles - mas diferente naquele dia (mais intenso: mais urgente) Quando sairam do restaurante - já tarde para ir ao cinema (pensou ela). Ele seguiu um caminho diferente e perguntou-lhe onde iriam. Ele suavemente, enquanto a segurava na mão perguntou-lhe se confiava nele - claro que ela confiava! Ela ia com ele até ao fim do mundo - pelo menos era o que sentia naquele momento. Verdade que nunca chegou ao fim do mundo - nem com ele, nem com ninguém - mas adiante. 

Quando se dirigiam para uma rua escura e sempre a subir, ele começou a falar: és a mulher que eu amo, que admiro e  não consigo mais imaginar viver sem ti. Parou o carro. Saiu. Deu a volta - pegou-lhe na mão e pediu-lhe para dançar. E dançaram - foi talvez dos momentos mais mágicos que viveu em toda a sua vida. Só quando a música terminou percebeu que estavam na adro de uma igreja, percebeu sem perceber. Ele ficou abraçado a ela, como se o mundo estivesse no fim.. Ela abraçada a ele a desejar que aquele momento se eternizasse para sempre na memória, perdia-se em pensamentos. Sem nenhum querer largar, como se de estátuas se tratassem. Ele, um gigante para ela, começou a baixar até se ajoelhar completamente. Ela começou a chorar: sem conseguir parar. E ali naquele momento ele levantou a cabeça com os olhos rasos de água e pediu-lhe - frágil, sem amarras - para casar com ele. Ela - sem pensar, sem compreender - afagou-lhe a cabeça no seu colo - e disse sim.

Foi, sem dúvida, um momento para nunca esquecer. A história deles teve muitos contornos - menos bons - mas, aquele momento, nem ele, nem ela conseguirão jamais esquecer. Pois dois seres tão diferentes. Dois seres tão distantes partilharam ali um momento de amor, intensidade, sensibilidade e fragilidade que muitos seres - melhores, mais bem formados - nunca na vida conseguirão alcançar.